Ponto prévio:
As castrações datam de 1956. Outros episódios agora conhecidos datam dos anos 60. Uma pessoa fica a pensar por quanto tempo continuariam nas catacumbas se Ratzinger não tivesse sido escolhido. Dito de outro modo, há mais gente a usar o sofrimentos das vítimas do que parece. E sim, os ratos de sacristia costumam dizer nos blogues que isto é conspiração da judiaria internacional contra o Papa.
O osso:
A repressão sexual, já ensinava o velho Sigmundo, desenvolve taras. No entanto, como a pedofilia moderna - electrónica ou real, e muito mais próxima de nós do que alguns imaginam - também ensina, a libertação sexual não nos livrou delas. Em que ficamos?
A visão clássica é que somos umas bestas domadas. Sob certas condições - genéticas, ambientais, toxicofílicas etc - a besta reaparece. Essa é a visão do Freud tardio. A escola tardo-moderna, para a chefia da qual podemos nomear Margaret Mead e W. Reich, declarou que a culpa das taras é exclusivamente da civilização capitalista apoiada na repressão sexual burguesa. Em cima do bolo podemos assentar a teoria da sociedade criminógena: a superestrutura social é sempre responsável pelos crimes individuais.
A repressão causa taras, a libertação causa taras. Conclusão: as taras são inevitáveis. A violência sexual sobre crianças, exercida pelo padre ou pelo trolha, é sempre violência sobre o mais fraco. O revestimento sexual impressiona-nos, mas é um erro de análise. Ela é igual à exercida sobre a velhota que foi ao multibanco, sobre o taxista indefeso ao volante, sobre o estudante que recusa um cigarro.
As crianças não têm dinheiro nem bens, por isso a violência sobre elas é, de ordinário, sexual. Se conseguirmos deitar fora a tralha ideológica que desculpa as outras violências sempre em nome das desigualdades e da pobreza, conseguimos compreender por que motivo a repressão sexual e a libertação sexual não mexem uma palha neste assunto.
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