DUAS ACHEGAS:
1) Na perspectiva psi:
Uma das ideólogas LGBT, uma das históricas e das melhores, Eve Sedgwick*, detestava um artigo de Friedman sobre o Core Gender Identity ( CGI). Basicamente, Friedman entendia que um rapazito efeminado desenvolvia a sua identidade gay se outros homens não o vissem como suficientemente masculino. Eve Sedgwick abominava esta interpretação, porque, se Friedman tivesse razão, uma proto gay childhood ( termo dela) estaria sempre dependente da forma como os pais ( ou os caretakers) percebessem o CGI . Resta que Friedman não foi expulso de lado nenhum, é um académico respeitado e editor-chefe ou co-editor de várias revistas de psiquiatria e psicanálise.
Sedgwick, que argumenta e escreve de forma impecável, esconde, no entanto , outro jogo. A pressão actual para a parentalidade gay pode ser vista como uma maneira de ultrapassar as conclusões de Friedman: afinal não estariam tão erradas como isso, ou seja, afinal é preciso dar uma ajuda ao desabrochar correcto da proto gay childhood. Pais, ou caretakers, do mesmo sexo podem funcionar como agentes provocadores-gay.
Pergunta : isto é mau ou perigoso? Do meu ponto de vista não sabemos ainda o suficiente para responder. Nestas coisas é preciso manter a cabeça fria e ignorar o lado militante dos ideólogos LGBT. Na minha prática clínica tenho bastos exemplos de pessoas que seriam hoje mais felizes se não tivessem sido pressionadas ( social e familiarmente) para não serem homossexuais. Por outro lado, o tal estilo militante ( por vezes fanático) inspira reserva: as crianças não são arquivos imperiais, para utilizar um autor gay friendlly como Edward Said.
*"How to bring your kids up gay", Social Text No 29 ( 1991).
2) Na perspectiva política:
Diane Richardson
tem um artigo muito bom sobre a questão da assimilação. A autora passa em revista os modelos de afirmação LGBT: o subversivo, depois o contestatário ( os manifestos londrinos dos anos 70 de ataque à a família tradicional) para , finalmente, analisar o
normal gay. E o que é o
normal gay, perguntam os meninos? É o gay, no dizer de Richardson, que "junta amor a sexo", que adopta a moral sexual burguesa que constitui uma ligação familiar monogâmica, que cria os filhos em paz. Como qualquer outra família tenebrosamente burguesa.
Sempre escrevi nesta linha: a ideologia LGBT acabou por descobrir que a melhor forma de assimilação é e a adopção da norma comportamental sexual-familiar maioritária. É delicioso constatar, como no artigo citado, que afinal, grande parte da identidade política LGBT cedeu. Acontece que isto levanta outras interessantes questões que muitos autores LGBT , como Richardson, abordam e com razão: a da cidadania. A partir de que ponto, politicamente falando ( outras, muito importantes, ficam para depois), podemos excluir os gays e lésbicas normais?