sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Lá como lá

Quando Epidamos declinou, o partido democrático derrubou o partido aristocrático, que foi aliar-se  aos estrangeiros que fustigavam a cidade -  tanto por terra quanto por mar ( Tucídides 435.3).
Epidamo era uma colónia de   Corcira, mas fora fundada pelos Corintos. Isto deu uma das mais famosas trapalhadas da Guerra do Peloponeso ( entre colonizadores,  fundadores e respectivos e poderosos aliados), mas podia ser ensinado nas universidades aos alunos de estudos pós-coloniais. Sempre   passariam a compreender que não foram os terríveis impérios europeus da Expansão que inventaram  o sistema.
Ainda assim, o que me interessa é o carácter mental do processo de colonização. Há muitos anos, um empresário francês instalou-se no Brejão.  Os habituais aldrabões-intermediários  locais  enriqueceram, o empresário não perdeu um tostão, enfim, o normal. O Brejão é uma terra  colonizável? Talvez. Conheço-a bem. No início da recta, um café pequeno e escuro vende conservas e um pão que dura dez dias.  Para  a esquerda, mar e casas  remediadas, miúdos  saídos de um documentário sobre uma aldeia  boliviana. Para a direita , pastagem e mais pastagem.
O Brejão não tinha aliados ( nem Esparta  nem Atenas nem o Estado português) ou inimigos. Aceitou o  francês como teria aceitado um bielorusso.

RTP Memória

Em vez  de 250 milhões / ano e mais uns grossos  trocos, os 140 que já pagávamos. 
Optima decisão do governo. As namoradinhas de Portugal que ganhavam 30.000 euros/mês para espirrar em público, as cavalgaduras que arranjavam pretextos para despedir quem incomodava o angolano  Eduardo dos Santos e  bidés como estes, podem todos ir trabalhar para as obras.
O melhor canal, o RTP Memória, que continue  a disponibilizar o arquivo. Para que não esqueçamos.

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Rui Ramos, Burckhardt e a chave Loff






Este senhor gostava da  História como uma literatura imaginativa e como um esquema do todo ( Gesamtschilderung), mas isso não o impediu  de ser, ainda hoje é, uma inspiração sobre os hexâmetros de Navagero ou as façanhas políticas  dos Este de Ferrara.
Rui Ramos  tentou imaginar, esquematizar. Não pode. Não tem permissão. Proponho então a chave Loff, que explica a verdadeira visão da História - a das televisões, da TSF, dos jornais e de alguns ( nem todos) blogues de esquerda. Por exemplo:

Salazar: ditador  fascista
Fidel: Líder histórico.

ou

Comunismo: uma generosa utopia por vezes com erros
Capitalismo: a barbárie.

Por outro lado,  Claudio Torres  diz  há muito tempo  que nunca houve invasão islâmica da Península.  Os mouros foram convidados ( e desconvidados, presumo, depois  de Poitiers) porque os reis visigóticos não se entendiam e os bárbaros foram os porcos cristãos ocidentais que os expulsaram. Claro está que mete o Iraque  e o Grande Satã americano ao barulho,  numa exemplar demonstração daquilo para que serve o revisionismo.
A direita  historiadora alguma vez mexeu uma palha contra  esta  ( e outras)  cretinices? Não, porque é preguiçosa. Bons tempos os da Futuro Presente ( o número sobre Margaret Mead é de chupeta) , animada por Jaime Nogueira Pinto, Borges de Macedo etc.
Ficamos assim.




Ou assim, sobre Loff e os que os citam, acoitando os métodos:

" 3º passo – a concluir, como eu era, hipoteticamente (o que, aliás, é falso!), contra as relações sexuais com maiores de 16 anos, vai de meter ao barulho a Fox TV, a invasão do Iraque e a destruição à marretada de carros franceses…  


quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Uma história do passado

Só faltam os médicos dentistas, não é?

Prever a tempo o cogumelo venenoso

Antes tarde que nunca. Já o escrevi, mas  um provinciano anacoreta tem menos eco. O processo é bem visível no laboratório dos blogues.
No que toca ao osso, JPP faz o mesmo relativamente a outros assuntos. Quem concorde com uma medida, ou com  uma parole, do governo, é arrumado na casta dos instalados e/ou dos que lucram com  a crise. O caso do acordão do TC sobre os cortes dos subsídios  foi exemplar.
Isto é história do futuro  porque repete-se vezes sem conta e parece sempre novo. Carlos de Oliveira  ( Finisterra) descreve muito bem o processo: Os quistos devem ser extirpados. A comunidade elimina-os, não os deixa degenerar. Legítima defesa. Prever a tempo o cogumelo venenoso.


terça-feira, 21 de agosto de 2012

Vamos matá-lo e depois adorá-lo como nosso santo padroeiro




É Burckhardt que conta  a história. Havia , talvez em Siena, um oficial que  livrou o povo da agressão estrangeira. Todos as semanas se reuniam para decidir como recompensar  o homem, mas nada parecia suficiente ou justo, nem mesmo fazer do homem Senhor da cidade.  A página tantas, um cidadão lembrou-se: vamos matá-lo e depois  fazer dele santo padroeiro da nossa amada cidade.
Quando mostrei este vídeo à minha filha, ela analisou: coitadinhos dos cães.

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Quem é o pai do Diabo?

Ao fim de algumas voltas , lá consegui  adquirir as Farpas Esquecidas. São textos publicados em  O António Maria e  que  não foram editados na edição original ( e em muitas das posteriores) de As Farpas. Dois ferros  de Ortigão sobre a Igreja merecem orelha:

Quando relata o que o padre da Igreja da Encarnação, no dia 8 de Dezembro de 1880, disse às suas ovelhas: " Bem aventurados os que não sabem ler nem escrever, porque os livros modernos pervertem a consciência dos homens". Ortigão andava de lado com a mania de libertar pela civilização a raça preta, porque sabia que o que se pretendia era  a catequização dos pretos.  Daí a história do preto que pergunta a um clérigo que o catecismava quem é que vinha   a ser o pai do Diabo.
Ora, a zorra de Ortigão contra o ódio aos livros  aplica-se hoje: o Meo ( que tem uma discoteca ilegal em Portimão  da qual faz publicidade à vontade), a televisão,  os pais, o telemóvel, o facebook e muitas outras formas de religião popular afastam  a gente dos livros. Os regimes salvíficos  ( o soviético, os islâmicos e o nazi, por exempl,  também entendiam ( os islâmicos ainda entendem)  que muitos livros eram prejudiciais aos bem aventurados. Por que motivo é sempre a Igreja  a alombar com a acusação é mistério insondável.
Noutra farpa, Ortigão  conta que o governador civil de Évora resolveu, por alturas de Março ou Abril de 1881,  dissolver a filarmónica denominada Alunos de Minerva e mais: apoderou-se dos instrumentos. Ortigão  compreende a elasticidade do Código Administrativo e do Código Penal na caça aos adeptos de uma deusa pagã, mas recusa o confisco:

"Porque nós conhecemos  os instrumentos de Évora tão intimamente como lhe conhecemos o pão de ló e sabemos que quando eles tangem, tangem pelo Todo-Poderoso ou pelo Sr. Deputado do círculo".

sábado, 18 de agosto de 2012

Como uma bola colorida nas mãos de uma criança

A civilização dirige-se para algum lado, isso é certo. É comum à esquerda e à direita o argumento da dinâmica civilizacional. À esquerda usa-se recuo civilizacional, à direita usa-se um duplo registo: ou regresso à selvajaria  ou destruição da dita civilização.
Horbiger foi aproveitado pelos  nazis ( eterno  retorno,  conspiração judaica da relatividade  de Einstein etc):


Hitler's fatal confidence in the success of his troops on the
Russian front during the 1941 - 2 winter is generally believed to
have been a result of his misplaced faith in Horbiger's weather
forecasts. Despite such setbacks, the Welteislehre managed to
thrive even after the war. The popular speculations of Immanuel
Velikovsky derive in part from Horbiger. In 1953 a survey conduc-
ted by Martin Gardner showed that more than a million people in
Germany, England, and the U.S. believed that Horbiger was right.6
  The Horbigerian cosmology posited an early epoch, some fifteen
million years ago, during which a hugh moon moved across the 
sky very near the earth. Its gravitational attraction gave rise to a
race of our ancestors, the giants. These giants, which appear in
the ancient Norse and Icelandic sagas, sleep, yet they are alive.
To the Nazis, they were Supermen. In one set of myths, contained
in the Nibelungenlied, they lived beneath Teutonic mountains. In
another they were prototype Aryans from the East, inhabiting VAST
Tibetan caverns.
 
 Encontre no debate o eterno retorno e o grande gelo: 

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Campanhas de dinamização cultural.



Seguindo o futuro passado de Parambos, quis arranjar imagens de uma acção de  campanha de dinamização cultural do MFA em Calvelhe ou noutra aldeia transmontana, mas fique-se com esta, no Alentejo. Note-se que "o homem não pode viver sem a mulher e a mulher sem o homem", o que hoje enviaria este militar para o panteão dos homofóbicos.
Em 1975, Zeca Afonso, Francisco Fanhais e Luís Filipe Rocha ( realizador, para os mais novos...), visitam*  Minas da Ribeira, em Trás-os-Montes. Zeca Afonso  compõe uma canção em memória de dois mineiros presos pela PIDE. A última estrofe mostra que a ideia  era transformar o camponês num actor central da revolução, num sujeito activo e  motor  da sua própria  história:

"Entre Parada e Coelhoso
Ainda reina a opressão
Não deixem fugir o melro
Não quebrem a vossa união".

 

* Sónia Véspera de Almeida, Camponeses, Cultura  e Revolução - Campanhas de Dinamização Cultural e Acção Cívica do MFA ( 1974-1975),  2009, Ed Colibri, UNL,



quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Leões Esquecidos - Parambos (2012)




Deirdre  McCloskey diz que foi a Bourgeois Revaluation que fez a Revolução Industrial. Inovação, risco lunático, poder dos ricos, equilíbrio entre dignidade e liberdade. Nada de capitalismo, exploração  colonial, Braudel etc. 
Muito há para escrever sobre os Parambos ( ou a minha  Posadas do "Mau-Mau"), muito para compreender. Metade do país  vive do passado, entre couves e olivais secos, sim, um lugar comum. O que será único é projectar estes Parambos e Posadas na história do futuro.  Lê-los num i-pad, smartphone, tablet e assim.
REDEFINIÇÕES:

1) Depois de uma excelente experiência no Corta-Fitas, regresso a solo. Em articulação com  a revista Ler, trabalharei uma história do futuro.
2) O Droga de Política encerra devido à falta de interessados, mas continuarei a publicar aqui textos sobre a história das drogas e a acompanhar as aventuras do narcotráfico.
3) Um blogue terapêutico arranca em breve.