Ao fim de algumas voltas , lá consegui adquirir as Farpas Esquecidas. São textos publicados em O António Maria e que não foram editados na edição original ( e em muitas das posteriores) de As Farpas. Dois ferros de Ortigão sobre a Igreja merecem orelha:
Quando relata o que o padre da Igreja da Encarnação, no dia 8 de Dezembro de 1880, disse às suas ovelhas: " Bem aventurados os que não sabem ler nem escrever, porque os livros modernos pervertem a consciência dos homens". Ortigão andava de lado com a mania de libertar pela civilização a raça preta, porque sabia que o que se pretendia era a catequização dos pretos. Daí a história do preto que pergunta a um clérigo que o catecismava quem é que vinha a ser o pai do Diabo.
Ora, a zorra de Ortigão contra o ódio aos livros aplica-se hoje: o Meo ( que tem uma discoteca ilegal em Portimão da qual faz publicidade à vontade), a televisão, os pais, o telemóvel, o facebook e muitas outras formas de religião popular afastam a gente dos livros. Os regimes salvíficos ( o soviético, os islâmicos e o nazi, por exempl, também entendiam ( os islâmicos ainda entendem) que muitos livros eram prejudiciais aos bem aventurados. Por que motivo é sempre a Igreja a alombar com a acusação é mistério insondável.
Noutra farpa, Ortigão conta que o governador civil de Évora resolveu, por alturas de Março ou Abril de 1881, dissolver a filarmónica denominada Alunos de Minerva e mais: apoderou-se dos instrumentos. Ortigão compreende a elasticidade do Código Administrativo e do Código Penal na caça aos adeptos de uma deusa pagã, mas recusa o confisco:
"Porque nós conhecemos os instrumentos de Évora tão intimamente como lhe conhecemos o pão de ló e sabemos que quando eles tangem, tangem pelo Todo-Poderoso ou pelo Sr. Deputado do círculo".
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