Pelo que vi, dinheiro desperdiçado. O corpo de uma mulher morta à pancada faz tanto pela diminuição da violência sobre as mulheres como o deserto faz pela falta de água. A linha é a mesma das campanhas de prevenção rodoviária: carros destruídos, sangue, aleijados, o resultado é o mesmo. Tudo como dantes em Abrantes, com a agravante de a crise obrigar a poupar gasolina, mas não os nós dos dedos.
O espancamento e assassínio de mulheres, namoradas e companheiras é um crime metódico. Borges desprezava um pouco os policiais, porque os crimes não se resolvem por raciocínios, mas por denúncias. Uma mulher que denuncia, neste nosso assunto, é uma mulher que tem mais probabilidades de acabar no hospital ou na morgue do que no tribunal ou segura ( não são, infelizmente, a mesma coisa).
A ideia de uma campanha para prevenir a maldade é pateta. Imaginam uma campanha contra o abuso sexual de meninas de seis anos? Imaginam o velho quase impotente e o trolha avinhado sensibilizados pelo anúncio de TV?
Existe, neste nosso assunto, como no bilhar livre, um efeito contrário: quanto mais as mulheres recusam o estatuto, mais pancada se arriscam a levar. Eles não acompanharam a evolução dos costumes.
A única saída é uma resposta rápida e eficaz da máquina repressiva ( de forma a justificar a denúncia), coisa que parece estar destinada apenas ao tabaco. Enquanto ela não existe, a melhor campanha seria a introdução do tema em todas as palavras. Tal significa politizar o assunto, retirar-lhe a canga doméstica e colocá-lo no plano da vida da cidade. A Igreja, os partidos, as universidades, por exemplo, deveriam ser pressionados sem piedade para incluir o tema como um apelo ao carácter ( o ethos).
8 comentários:
Compare:
http://www.tumblr.com/photo/1280/13445207238/1/tumblr_lv9uxj8Iil1qz4x8x
o link não funciona.
funciona sim
Agora sim.Ora aí está.
"A ideia de uma campanha para prevenir a maldade é pateta. Imaginam uma campanha contra o abuso sexual de meninas de seis anos? Imaginam o velho quase impotente e o trolha avinhado sensibilizados pelo anúncio de TV?"
Filipe, o crime é publico. A queixa pode ser feita por qualquer um. O objectivo da campanha não será sensibilizar o agressor, mas lá está trazer o assunto para a rua pelo choque, pelo gráfico. Agora, o problema talvez não seja tanto do código penal, mas do código de processo. O Filioe talvez fale de coacção. Talvez. Certamente não será a publicidade a mudar os costumes, mal ela é costume.
Tiago,
Sei que é crime, como o roubo ou o assassínio. Há campanhas?
Diz que traz o assunto para a politeia? Não me parece. As campanhas estão vulgarizadas ( cães abandonados, reciclagem de lixo , etc).
Filipe,
Como sabe este é um crime essencialmente intra-familiar, um crime da esfera próxima. Até por definição. Mesmo o outro crime que refere como exemplo, de abuso sexual de um criança de 6 anos, é também um crime essencialmente intra-familiar.
Ou seja, são crimes que se desenrolam de uma forma mais ou menos silenciosa, reiterada. Mas como são crimes públicos, para que o ministério público os investigue basta uma denúncia. A vítima não precisa de fazer queixa. Nisso são muito diferentes do roubo, que não é um crime público.
Também tenho a noção de que a mulher que denuncia fica em maior risco imediato de se magoar.
Ou seja: eu partilho consigo as dúvidas sobre a eficácia deste tipo de campanha. Mas, quando escreve, "A ideia de uma campanha para prevenir a maldade é pateta" acho que tem razão mas está desviado do sentido da campanha. Tanto quanto entendo, ela não pretende "prevenir a maldade" ou "dar um puxão de orelhas ao criminoso", mas sim alertar para a importância de denunciar este tipo de crimes.
As campanhas não estão vulgarizadas, este modelo é que está gasto. É você que diz: "Tal significa politizar o assunto, retirar-lhe a canga doméstica e colocá-lo no plano da vida da cidade".
O que sugere?
Tiago,
Vou responder em post.
Enviar um comentário