Passam-se dias de aço e não vejo nada. O número de mulheres e companheiras mortas, ameaçadas ou espancadas pelos seus homens continua pujante.
Os bispos e cardeais preferem continuar , luzidios de anéis e batinas, a falar de política ; a esquerda libertária parece continuar mais interessada nos assuntos LGBT e nos feriados religiosos ( só se mobilizarão com novo caso Roberta).
As gajas? Que se fodam*.
* Um leitor espantou-se com o uso do verbo, porque nunca o fiz. Eu também, mas não me ocorre outro.
* Um leitor espantou-se com o uso do verbo, porque nunca o fiz. Eu também, mas não me ocorre outro.
14 comentários:
Genial, meu caro. Que inveja.
Se já pensou bem acerca do assunto o que acha que resultava? Eles mudarem? Eu costumava dizer que só há um carrasco quando há uma vítima. Agora acho que há homens que são especialmente agressores. Uma amiga disse-me que ele lhe bateu e ela não queria deixá-lo (no tempo em que não era crime público), disse-lhe para a próxima vez que ele lhe levantasse a mão (porque ia haver uma próxima), reagisse rapidamente de surpresa e com violência sem bater mas empurrando e encostando-o a parede de forma a magoa-lo e lhe dissesse olhando nos olhos "não voltas a tocar-me senão mato-te" - e faz com que ele acredite. Não voltou a bater-lhe (já morreu), mas agora acho que foi um conselho arriscado.
Entretanto tentei, confesso, explicar-lhe o quando ela era superior a ele. Acho que o risco é elas sentirem-se frágeis e a precisar deles, económica, emocionalmente, ou o que for.
Ser homossexual, homem ou mulher, também não é fácil. Muitos levam porrada ainda em adolescentes e são expulsos de casa. É uma boa causa, denunciar isso, não o deve menosprezar. Quanto às mulheres que apanham dos maridos, não sei a que esquerda libertária se refere, mas tenho visto alguns blogues dessa área denunciar isso mesmo, como o jugular. A Igreja, sim, nunca fez nada. Foi exactamente a esquerda que contra a tradição da Igreja lutou pelos direitos das mulheres, direito ao voto, direito à não discriminação e ao acesso ao trabalho, a igual salário, direitos civis como a não submissão cívica ao marido, etc. Tanto o PCP como o Bloco de Esquerda (e antepassados do bloco de esquerda), partido socialista, etc. Como é que não lutariam também contra a violência dos homens contra as mulheres?
Rui Felício,
A esquerda institucional-comunista, por exemplo, pouco liga ao assunto ( a base do PCP é bem machista e tradicional); a esquerda institucional dos negócios e comentadeira idem aspas, mas porque o assunto é montes de aborrecido.
A esquerda libertária compostinha não se mobiliza, não se organiza nisto. Vê paradas, manifs, manifestos ( lá as coisas que costumam fazer nos assuntos LGBT)? Eu também não.
A esquerda libertária-revolucionária quer é ver Israel a arder.
Direitas: Uma vergonha tanto mais vergonhosa quando é a família tradicional que vai morrendo com a morte destas mulheres.
Filipe, acho que está a ser injusto para com o PCP ou com aquilo que chama esquerda institucional-comunista. Historicamente foram até os que mais lutaram pela igualdade de direitos de homens e mulheres. Quanto à denuncia da violência de que fala não tenho suficientes conhecimentos para falar em tomadas de posição. Mas o facto é que a sociedade pela qual lutaram visava também diminuir essa violência, directa ou indirectamente. Comunistas e toda a esquerda em geral. A mulher era, legalmente, propriedade do homem, lembre-se disso, e matar a mulher era quase como matar um animal doméstico.
Quanto a marchas gay, nunca vi nenhuma. Sei que em Lisboa se faz uma vez por ano com meia dúzia. É um ai jesus, que há assuntos mais importantes, etc. Quanto a manifestos em blogues, jornais, etc, são mais visíveis do que as marchas. Mas o facto é que uns a outros casos são casos de violência e sofrimento, disso tenho eu conhecimento.
Falei-lhe no Jugular porque sei que de vez em quando escrevem sobre o assunto a que se refere. Mas haverá outros ligados à esquerda que nem sequer o mencionam, também é verdade.
Um dos trabalhos mais meritorios do PSOE foi a luta contra a violencia domestica. Em todos os aeroportos espanhois estavam cartazes gigantes a entrada no país a alertar e repudiar para a violencia domestica. Bom trabalho do PSOE.
Isso foi um bom trabalho, henedina. Mas mais do que isso, provavelmente o PSOE legislou nesse sentido, aprovando penas mais duras para os casos de violência doméstica. Isso é que é importante. Tenham os juízes também mais sensibilidade para o assunto, e teremos uma sociedade mais justa e menos cruel.
Rui, o bom trabalho não foram os cartazes foi a legislação e mudança da opinião publica para tolerencia zero para a violência domestica.
Henedina, quando me referi aos cartazes, queria mesmo salientar o impacto que isso teria na opinião pública.
Filipe, por tudo o que disse, acho também difícil que a base do PCP seja tão machista e tradicional quanto pensa. Para mim, pelo menos, seria um pouco contraditório. Claro que isso existe no PCP, seria tolice negá-lo, mas parece-me longe de ser a regra. Seria um estudo interessante. Parece-me que a população é mais machista e tradicional no Norte, por exemplo, sobretudo nos meios rurais, bastião do conservadorismo anti-comunista (se é que ainda há tal coisa)do que nos meios urbanos e industriais do Sul mais tradicionalmente ligados às bases do PCP.
Mas o que julgo mesmo importante salientar é o trabalho da esquerda ao longo da história do século XX pela dignidade da mulher, incluído o direito a não ser maltratada pelos seus maridos.
"mais machista e tradicional no Norte." Eu sou do Norte acho que é transversal. O pior é haver machismo em pessoas abaixo dos 25 anos. Acho que os homens acima dos 50 são os piores. Acho homens abaixo de 30 (neste caso sobretudo em cidades) por vezes a situação quase se inverte e alguns deles quase precisam da APAV.
Rui,
Referia-me à base antiga, católica ( porquois pas?)e muito tradicionalista . Norte? Vá a Cuba, Alvito, Alcoutim, etc. A verdade é que não vemos o PCP neste terreno.Grupos de trabalho? Pois, isso dizem-me os meus amigo da direita conservadora: muito undercorver, mas pegar o bicho pelos cornos, tá quieto.
Em Espanha foi com o bastão? E depois? Uma doente minha, portuguesa, levou um safanão ( nem sequer uma estalada) do marido, Fez queixa. No dia seguinte a Guarda Civil estava à porta do homem e o processo começou. Madrid, 2009.
Dê-se as voltas que se quiser. Não há mobilização porque o grupo alvo não tem consistencia nem espaço mediático.
Tem razão, Filipe, no Alentejo comunista profundo, sim. Isso é a base camponesa. O "base, antiga, católica" também não oferece dúvidas, ainda que aquela gente já há muito ande arredada da Igreja. Isto não vai lá com manifestos. Vai mesmo com repressão. A revolução das mentalidades anda mais devagarinho. Mas em Espanha, a casa era um convento para as mulheres. É ver agora.
"nunca o fiz".
Usar o verbo, suponho.
Dado eu pensar bem da sua mulher.
(esta pode não pôr é só para me rir, pôs-se a jeito...)
"As mulheres? Que se lixem."
Não é "suponho", é mesmo assim na língua portuguesa.
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