No primeiro texto gerou-se um debate que vale a pena. Peguemos no vídeo. Um corpo na morgue e o foco no perigo da reconciliação, ou seja, na contemporização. Para além do que já escrevi, acrescento mais coisas:
O corpo na morgue é o fim de um processo metódico. Tanto a potencial vítima como o potencial agressor não se revêem nisto.O método não visa a morte da companheira, visa a sua subjugação. O osso é outro e suporta um corpo sim, mas de superioridade masculina : física e cultural. Essa superioridade, por sua vez, respira o hegeliano criteria: está certo porque posso.
Se eu dirigisse uma campanha destas ( já que insistem no veículo), apontaria ao início e à vida real. Filmaria os pequenos detalhes do desenvolvimento do método. Por exemplo, uma refeição em família que vai crescendo em raiva e termina com uma lambada ao pé do lava-louça. Ou uma discussão sobre uma saia sexy que não pode ser posta.
8 comentários:
Concordo que a refeição à mesa que descamba seria mais interessante. É uma âncora familiar, a refeição. E seria o foco da desgraça.
Este exemplo é interessante:
http://www.youtube.com/watch?v=ctoZbeD-GlY
Tem um estrutura circular que sugere perpetuação (começa com um saída de set para acabar num set) e pela sua normalidade ordeira (a rotina de chegar a casa depois de um dia como os outros), sendo muito menos gráfico, é mais perturbador.
Ainda assim, julgo que o vídeo da campanha portuguesa falha essencialmente no alvo: se for o agressor não é por aqui que ele é sensibilizado ou "racionalizado"; se for a vítima, tem com toda a certeza razões mais fortes para abandonar a situação ou para não a poder abandonar, dependendo do seu contexto (há crianças ao barulho? a mulher é dependente do ponto de visto económico? tem outra família ou amigos para onde fugir?).
Julgo que o alvo deveria ser a população em geral, com foco no facto de a violência doméstica ser crime público e todos termos obrigação de o denunciar. Uma mulher (ou um homem) morrer vítima de violência doméstica é insuportável, mas os gritos que se ouvem vindos do andar de cima também deveriam ser.
Lembro-me ainda (e estou a citar de cor), de uma campanha do Mayor's Office de Londres. Tinha uns grandes posters (lembro-me de um no túnel do metro) com letras brancas em fundo preto, sem qualquer adorno, que dizia algo do género: "Um mau dia no escritório? Vai ter com os amigos ao pub para relaxar? Uma cervejinha? Uma sova mulher" e depois continuava com uma explicação de o crime era público e não era necessária queixa para ser investigado, terminando com uma inscrição do estilo: "já não existem casas seguras em londres para os abusadores".
Outro alvo interessante para uma campanha de sensibilização seriam os agentes de autoridade e médicos, que todos os dias lidam com estes casos de uma forma mais ou menos explicita no serviço de urgência de um qualquer hospital. Essa é a linha da frente.
:))
"Filmaria os pequenos detalhes do desenvolvimento do método." Genial.
E o Luís já que os publicitários podem fazer pro bono pode já por os 2 videos nem que seja no "you tube".
"O osso é outro e suporta um corpo sim, mas de superioridade masculina : física e cultural. Essa superioridade, por sua vez, respira o hegeliano criteria: está certo porque posso." Genial.
O "hegeliano criteria: está certo porque posso." Hegel é alemão e nem sabia que no séc XXI uma sua contemporanea Merckel o ia aplicar. Merckel a "filósofa". E muitos pequenos e grandes poderes.
Limitei-me apenas a saudar a aproximação empírica do RPR ao problema, que não é habitual na blogosfera. Obviamente, não penso que o Filipe seja "pateta". Mas no primeiro texto o Filipe escreve que "a ideia de uma campanha para prevenir a maldade é pateta", o que parece ser uma generalização para qualquer campanha sobre a maldade, e depois, no segundo texto, imagina a campanha que faria. Convenhamos que é um desenvolvimento inesperado.
Sobre a sua crítica: creio que o seu argumento só é válido se imaginarmos como alvo da campanha a vítima e o criminoso, o que não é uma conclusão óbvia. Não sou publicitário, mas creio que estas campanhas são para toda a gente e também têm por objectivo aumentar a censura pública a este tipo de situações, o que pode ter consequências positivas (penso nos vizinhos que toleram ouvir a pancada, na amiga que conhece a história e pouco faz, etc.)
Caro Vasco,
Limitei-me a assinalar que há uma diferença entre uma ideia , ou uma opinião, pateta e uma pessoa pateta.
Quanto ao desenvolvimento inesperado, não o é. O Tiago Costa ( e o Luís M.Jorge, de certa forma, no blogue dele) , nos comentários ao post anterior, insistiu para que eu não ficasse de cadeira e por isso alinhavei o que poderia ser uma campanha ( daí eu dizer "já que insistem no veículo) . Continuo a pensar que é inútil.
Acho o filme mto mal conseguido (tal como as palavras da Teresa Moraes, já agora. Falamos de um crime público, felizmente, lutar contra ele não depende unicamente da vítima, mtas vezes bastante diminuída, e a não reconciliação (se é q isso existe) não pode ser usada como factor "responsabilizador" da morte, é mto perigoso e ineficaz.
Dito isto, Filipe, concordo com a critica que o Vasco lhe faz qo a considerar pateta a ideia de uma campanha para prevenir - ou lutar contra, já agora - a maldade.
queria ter escrito "ea a reconciliação (se é q isso existe) não pode ser usado como facto "responsabilizador"", sorry
Nada pateta, Ana que ideia. As da prevenção rodoviária e dos cães abandonados , por exemplo, têm tido óptimos resultados.
Enviar um comentário