É a primeira vez que o PSD está no governo sem o respaldo de um conjunto de intelectuais mais ou menos próximos do poder ( ou do partido), mas sempre produtores da mediação entre a prática política e os cidadãos. O eleitorado urbano, universitário e interessado na coisa política não encontra linhas que lhe permita ultrapassar a excitação mediática e a manipulação agenciada. Aliás, o ódio deste PSD às elites ( coisa que já vem de longe, se bem se lembram...) mostra bem o sentimento de desamparada inferioridade.
A ausência de apoio intelectual à política PSD do governo é factor de perturbação, porque, à direita, no CDS, tudo de novo. Acabou o bater de mão no peito contra o mafarrico fiscal - taxam como os outros - e o aperto financeiro não permite o isabelino milagre das rosas. No PSD é o deserto. Se varrermos a imprensa e os blogues, vemos truculência, trocadilhos, piadolas de café, erros ortográficos e redacções escolares que brandem uma vaga superioridade moral dirigida contra adversários de playstation.
Existem algumas justificações:
a) a actual política do governo, até agora, é a que foi desmentida durante a campanha,
b) o espírito de facção, até porque alberga penas outrora violentíssimas com Passos Coelho, zangas de comadres ( Marques Lopes) e consegue exibir desbragados peões de brega como jornalistas celestialmente isentos, transformou o discurso dos truculentos numa espécie de ALD de insultos. Sabe-se lá onde estarão o que dirão amanhã,
c) os principais candidatos à função - Marques Mendes, Graça Moura, Pacheco Pereira, MRS - não pertencem ao eixo Relvas-Gaia que domina a facção. Sobra Ângelo Correia, sempre excelente, mas isolado.
Miguel Sousa Tavares diz, no Expresso deste sábado, que confirmou a suspeita: este PSD não estava preparado para governar, apenas para tomar o poder. Parece-me injusta a tese, porque este PSD, pese os tais desmentidos de campanha ( ver o link) , sabia exactamente ao que vinha. Algumas boas escolhas ministeriais confirmam este raciocínio. O governo está a fazer o óbvio: o pau no primeiro ano, a cenoura depois.
O que aconteceu é da natureza das coisas. O aguerrido espírito de facção, sobretudo se muito pouco lido, não consegue pensar para além das bordas do território da facção.
Sem comentários:
Enviar um comentário