Como recorda Otelo ( Alvorada em Abril, pp 127-136), o movimento dos capitães nasceu do decreto-lei 353/73. Os oficiais do QP foram ultrapassados pelos milicianos em soldo e regalias e assim a guerra não vali a apena. O resto da história ( também) é conhecido.
O conteúdo fantasmático de Abril assumiu este ano , e definitivamente, o estatuto de religião civil ( como a arte nas antigas cidades helénicas). Sempre houve sinais - quem não se recorda da caça. noutros anos, a quem não levavava o cravo vermelho na lapela para as cerimónias na AR? -, mas agora há presença.
O que estimulou mais, este ano, os sacerdotes de Abril, como no passado estimulou os capitães - foi o dinheiro. Parece estranho mas não é. Num Portugal de spa's, BMW's a pataco e férias em Varadero, os sacerdotes teriam muita dificuldade em acordar o pressuposto cripto-messiânico de Abril. Num Portugal amordaçado, a memória de um golpe administrativo transformado numa incubadora de teóricos marxistas e Che's de ceroulas, tem muitas hipóteses de sobreviver.
Borges perguntava , sempre que o informavam, se dada revolução tinha bandeira e chefes políticos. Quando lhe diziam que sim, ele respondia que então não era uma revolução. É uma religião civil, acrescento.
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