A esquerda é o lugar sobrenatural do homem - julgo que a fórmula é de Eduardo Lourenço. Pode entender-se a afirmação assim: é o produto da transformação das condições do estado natural, ou do estado de guerra, de Locke. A justiça e a igualdade são trabalhos contra esses estados. Esta mecânica é muito mais apetecível do que a reverie utópica que cativa a juventude normalizada.
A esquerda tem muitas vantagens sobre a direita:
1) Cooptou a defesa dos oprimidos, dos pobres e dos discriminados.
2) Promete um mundo diferente e melhor.
3) É experimentalista, o que lhe desculpa as consequências dos erros e dos ensaios.
A direita nunca se libertou da herança imperial e capitalista. Nos tempos de fartura exigem-lhe mais do que as célebres migalhas, nos tempos amargos assaltam-lhe as caves e os castelos. O manto conservador só queimou quando se aproximou do fogo socialista. Mussolini foi redactor do Avanti!, Hitler não se esqueceu da palavra na designação infame do partido. As ditaduras proto-fascistas ou sul-americanas são consideradas simples joguetes do grande satã americano ou alter-capitalista.
A direita joga à defesa:
1) É assistencialista com os pobres ( muitas vezes em colaboração com a Igreja).
2) Vigia o domínio: nação e pátria.
3) É adicta à tradição, ainda que a tradição de hoje seja geralmente a novidade que a fazia tremer ontem.
É mais fácil ser de esquerda quando há liberdade, é mais fácil ser de direita quando não há.
(Nos próximos capítulos: teoria e prática, o efeito da falta de dinheiro sobre as opções ideológicas, etc)
4 comentários:
Boa noite Filipe,
Gosto do seu último ponto 3.
Nunca percebi porque é que a direita portuguesa estagnou e não consegue sair do registo que define tão bem nos pontos 1 e 2.
Um mistério ou talvez não.
Um abraço
Discriminados
obrigado.
"A esquerda é o lugar sobrenatural do homem"...
É mais fácil ser de esquerda com liberdade.
Devo-lhe "200 euros".
Bom post.
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