domingo, 18 de março de 2012

DUAS  ACHEGAS:

Às crónicas  do  meu estimadíssimo  cavaleiro Pedro.

1) Na perspectiva psi:

Uma das ideólogas LGBT, uma das  históricas e das  melhores, Eve Sedgwick*, detestava um artigo de Friedman sobre o Core Gender Identity ( CGI). Basicamente, Friedman entendia que um rapazito efeminado desenvolvia  a sua identidade  gay se outros homens não o vissem como suficientemente masculino.  Eve Sedgwick abominava esta interpretação, porque, se Friedman tivesse razão,  uma proto gay childhood ( termo dela) estaria sempre dependente da forma como  os pais ( ou os caretakers)  percebessem  o CGI . Resta que Friedman não foi expulso de lado nenhum, é um académico respeitado e editor-chefe ou co-editor de várias revistas  de psiquiatria e psicanálise.
Sedgwick, que argumenta e escreve de forma impecável, esconde, no entanto , outro jogo. A pressão actual para a parentalidade gay pode ser vista como uma maneira de ultrapassar as conclusões de Friedman: afinal não estariam  tão erradas como isso, ou seja, afinal  é preciso  dar uma ajuda  ao desabrochar correcto da proto gay childhood. Pais, ou caretakers, do mesmo sexo podem funcionar como agentes provocadores-gay.
Pergunta : isto é mau ou perigoso? Do meu ponto de vista não sabemos ainda o suficiente para responder. Nestas coisas é preciso manter a cabeça fria e ignorar o lado militante dos ideólogos LGBT. Na minha prática clínica tenho bastos exemplos  de pessoas que seriam hoje mais felizes se não tivessem sido pressionadas ( social e familiarmente)  para não serem homossexuais. Por outro lado,  o tal estilo militante ( por vezes fanático) inspira reserva: as crianças não são arquivos imperiais, para utilizar um  autor gay friendlly como Edward Said.

*"How to bring your kids up gay", Social Text No 29 ( 1991).

2) Na perspectiva política:

Diane Richardson tem um artigo muito bom sobre  a questão da assimilação. A autora passa  em revista os  modelos de afirmação LGBT: o  subversivo, depois o  contestatário ( os manifestos londrinos dos anos 70  de ataque à a família tradicional) para , finalmente, analisar o normal gay. E o que é o normal gay, perguntam os  meninos? É o gay, no dizer de Richardson,  que "junta amor a sexo", que adopta a moral sexual burguesa que constitui uma ligação familiar  monogâmica,  que cria os  filhos em paz. Como qualquer outra família tenebrosamente  burguesa.
Sempre  escrevi nesta linha: a ideologia LGBT acabou por descobrir que a melhor forma de assimilação é e a adopção da norma comportamental sexual-familiar  maioritária. É delicioso constatar, como no artigo citado,  que afinal, grande parte da identidade política LGBT  cedeu. Acontece que  isto levanta outras interessantes questões que muitos autores LGBT , como Richardson, abordam e com razão: a da  cidadania. A partir de que ponto, politicamente falando ( outras, muito importantes, ficam para depois), podemos excluir os gays e lésbicas normais

Sem comentários: