Nos pomares,
nas hortas ascendentes
a tarde inteira foram vozes
sem quebras, sem omissões
e a crina do potro sacudiu a pastagem
palpitante de sol
sem que noite alguma viesse
elidir o pensamento.
( "Elipse", Rui Lage, Berçário, Quasi, 2004)
É preciso evitar a substituição do poeta pela máquina electrónica de fazer poemas, dizia Carlos Oliveira. E com razão, pois há tantas peças repetidas e obscenas para rematar o poemita ( as aves, os pássaros, a língua, etc, já sabem).
Rui Lage é todo campo, mas campo são, sem muitas muletas. Este Elipse começa bem, descamba um pedacito com o potro, estatela-se com a pastagem palpitante de sol.
Se na dignidade do verso, uma só palavra que falte impede todo o resto ( Valery), o "palpitante", feio e liceal, é um resto que devia ter sido impedido.
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